Compulsão alimentar vs. exagero alimentar: entenda as diferenças (e como lidar com cada um)
- milenahernandes

- 18 de jun.
- 3 min de leitura
Você já comeu além da conta em uma festa ou final de semana e se sentiu desconfortável depois? Ou já passou por episódios em que perdeu o controle sobre a comida, comendo rápido e em grande quantidade, mesmo sem fome?
Embora ambos os cenários envolvam comer em excesso, existe uma grande diferença entre exagero alimentar e compulsão alimentar (Transtorno da Compulsão Alimentar - TCA).
Vamos entender as características de cada um, como identificar e o que fazer em cada caso.
1. O que é exagero alimentar?
Características:
Acontece ocasionalmente (ex.: festas, feriados, eventos sociais).
Você sabe que está comendo mais, mas consegue parar quando se sente satisfeito.
Não há sentimento de culpa intenso depois.
Não é acompanhado por comportamentos compensatórios (como vômitos ou exercícios excessivos).
Por que acontece?
Ambiente propício (buffets, confraternizações).
Comida muito saborosa e disponível.
Fator emocional (como comer por tédio ou ansiedade).
O que fazer?
Não se culpe – é normal exagerar às vezes.
No dia seguinte, volte à rotina sem restrições extremas.
Pratique alimentação consciente (comer devagar, prestar atenção à fome).
2. O que é compulsão alimentar (transtorno da compulsão alimentar - TCA)?
Características:
Episódios frequentes (pelo menos 1 vez por semana por 3 meses).
Sensação de perda de controle ("não consigo parar de comer").
Come muito rápido e até se sentir desconfortavelmente cheio.
Pode comer mesmo sem fome física.
Culpa, vergonha ou angústia intensa após o episódio.
NÃO usa métodos compensatórios (diferente da bulimia).
Por que acontece?
Restrição alimentar crônica (dietas muito rígidas).
Fatores emocionais (estresse, ansiedade, depressão).
Genética e ambiente (histórico familiar, traumas).
O que fazer?
Busque ajuda profissional (nutricionista + psicólogo + psiquiatra).
Evite as dietas restritivas – elas pioram a compulsão.
Identifique gatilhos emocionais (o que desencadeia esses episódios?).
Pratique autocuidado sem julgamentos – compulsão não é "falta de força de vontade".
Por que as pessoas confundem?
1. A cultura das dietas distorce tudo
Vivemos em um mundo que patologiza o comer normal ("comi um pedaço de bolo = falhei").
Ao mesmo tempo, romantiza a restrição extrema ("fiquei 12 horas sem comer = sucesso").
Resultado? Qualquer exagero vira "compulsão", e qualquer compulsão é minimizada ("é só falta de força de vontade").
2. Sintomas parecidos (mas motivos diferentes)
Ambos envolvem comer além da fome física.
A diferença está na frequência, intensidade e impacto emocional (veja tabela no post anterior).
3. Falta de informação sobre saúde mental
Muita gente não sabe que compulsão alimentar é um transtorno psiquiátrico (TCA), não "falha de caráter".
Exagero ocasional, por outro lado, é parte da alimentação normal.
Principais diferenças entre eles
Característica | Exagero Alimentar | Compulsão Alimentar (TCA) |
Frequência | Ocasional | Recorrente (1x/semana por 3+ meses) |
Controle | Consciente, pode parar | Sensação de perda de controle |
Velocidade | Come normalmente | Come muito rápido |
Fome física | Pode estar com fome | Come sem fome |
Culpa depois | Leve ou inexistente | Intensa (vergonha, angústia) |
Compensação | Não há | Não há (diferente da bulimia) |
Como lidar com cada situação?
Se for exagero ocasional:
Não se puna – isso pode levar a ciclos de restrição e mais exageros.
Volte à rotina sem extremismos.
Se for compulsão alimentar:
Procure ajuda – TCA é um transtorno sério, mas tratável.
Evite dietas radicais – elas pioram o ciclo.
Trabalhe a relação com a comida – comer não deve ser um ato de culpa, mas de nutrição e prazer equilibrado.
Se você se identificou com sinais de TCA, não se julgue: transtornos alimentares são condições médicas, não escolhas. Procure ajuda profissional! E se foi "só" um exagero? Permita-se viver sem culpa – comida também é prazer.
✍🏼Milena Hernandes - Nutricionista
📌CRN-3 63747
Referências bibliográficas:
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5), 2013.
SCHAEFER, J. T.; THOMPSON, J. K. The role of self-compassion in recovery from binge eating disorder. International Journal of Eating Disorders, 2018.



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